“De manhã cedo um homem sai de uma taberna ao pé das docas, com o cheiro do mar no nariz, uma garrafa de uísque no bolso, a deslizar tão levemente na calçada como o navio que abandona a barra. Não tarda, porém, que vá meter-se em pleno vendaval; açoitado por todos os lados, vê-se coagido a voltar para trás. Que jeito lhe daria um porto de abrigo qualquer. Refugia-se noutro botequim.
Ainda consegue escapar desta, e expeditamente refeito; o pior são as dificuldades que mais adiante o espreitam. E agora muito a sério: por u triz não fica debaixo do autocarro, dá com a cabeça numa parede e até cai para cima do caixote do lixo onde há pouco deitara uma garrafa. Quem passa olha-o com ar de reprovação ou troça; e alguns chegam a mostrar uma estranha cupidez. (...)
Mete-se noutra taberna, mas dá-lhe para falar de pessoas que não conhece e sítios que nunca viu. Pela porta aberta a dominar o rio, o hospital obceca-o. Com arrogantes, farpados destroços de navio mesmo ao lado, a venerá-lo acima daquele escarrador e parece que assustados com os homens que tem dentro. Do fundo da taberna chega-lhe como que um gemido e um tiquetaque de relógio.
Outra vez na rua, a peregrinação prossegue; lá vai de taberna em taberna, como que á procura de uma coisa, mas o hospital é que não lhe sai da ideia, todos aqueles bares não passam de pontos de referência no seu círculo. Pára junto de um sino que toca numa rua ao longo do cais; uma mulher horrível, de rosto devastado meio oculto atrás de um véu negro, tenta enfiar no marco do correio uma carta, tenta-o várias vezes sem resultado e por fim consegue-o, mas tanto treme que as mãos nem mãos parecem. Assalta-o, então, uma ideia estranha: que é para ele a carta.”
Ainda consegue escapar desta, e expeditamente refeito; o pior são as dificuldades que mais adiante o espreitam. E agora muito a sério: por u triz não fica debaixo do autocarro, dá com a cabeça numa parede e até cai para cima do caixote do lixo onde há pouco deitara uma garrafa. Quem passa olha-o com ar de reprovação ou troça; e alguns chegam a mostrar uma estranha cupidez.
Mete-se noutra taberna, mas dá-lhe para falar de pessoas que não conhece e sítios que nunca viu. Pela porta aberta a dominar o rio, o hospital obceca-o. Com arrogantes, farpados destroços de navio mesmo ao lado, a venerá-lo acima daquele escarrador e parece que assustados com os homens que tem dentro. Do fundo da taberna chega-lhe como que um gemido e um tiquetaque de relógio.
Outra vez na rua, a peregrinação prossegue; lá vai de taberna em taberna, como que á procura de uma coisa, mas o hospital é que não lhe sai da ideia, todos aqueles bares não passam de pontos de referência no seu círculo. Pára junto de um sino que toca numa rua ao longo do cais; uma mulher horrível, de rosto devastado meio oculto atrás de um véu negro, tenta enfiar no marco do correio uma carta, tenta-o várias vezes sem resultado e por fim consegue-o, mas tanto treme que as mãos nem mãos parecem. Assalta-o, então, uma ideia estranha: que é para ele a carta.”
Malcolm Lowry, in Lunar Caustic, Assírio & Alvim, 1985