De que cor é o Correio da Manhã?
A história do Correio da Manhã é negra ou branca?
Quando o Correio da Manhã na sinopse introdutória à Colecção "Os anos de Salazar" refere que a "informação rigorosa" perante a história "não é negra nem é branca", e "não conhece cores políticas", admite a hipótese que a ideologia da isenção, do rigor e da imparcialidade (a ideologia da não-ideologia ou a comunicação social tornada kitsh por essência ) está para além da premissa geral que assume que, em todos os tempos históricos, quem manda prender, torturar e assassinar é fascista. Por outras palavras, o fascismo – seja ele de que cor pop se revestir – pode ser denunciado por um fundamento baseado em ideologias e cores políticas, mas pode passar em branco e incólume ao olhar não-ideológico da Informação defendida pelo Correio da Manhã. Isentos e imberbes como o rosto de um ditador!
Independentemente dos textos que acompanham esta iniciativa do Correio da Manhã (e se retirarmos o til?), só podem existir duas razões para que a campanha de promoção publicitária tenha o rosto de Salazar em versão Pop-arte – estetizar o rosto do fascismo lusitano só seria interessante se não fosse uma ideia estafada, e inteligente se imbuída de ironia, o que não acontece e consequentemente este acto publicitário quer dizer que tudo pode valer porque nada vale – em vez do rosto de um homem ou de uma mulher torturados em nome do regime de Salazar:
1. Por razões comerciais, ou seja, fazer guito com o facho de Santa Comba Dão (motivo óbvio);
2. Pelo culto muito em voga da lixívia histórica aplicada por quem não tem pensamento próprio ou prefere comodamente não-pensar.
Há uma terceira razão possível, mais abastardada ainda, que seria a união das duas razões assinaladas.
Neste país, se um jornal ou alguém – quem quer que seja que prefira não mentir – quiser ser imparcial sobre a história do regime de Salazar não é sério se organiza uma campanha publicitária (denunciamos o "rosto" desta campanha publicitária e não os textos que desconhecemos) com o rosto cheio de peelings e facelifts do homem por quem se perseguiu, prendeu, torturou, matou, "não contando e ocultando" o rosto de quem sentiu na pele e pela cabeça abaixo as pauladas do dito cujo.
Por que quando se lidera um Estado que durante 40 anos assassina, a história não é negra nem branca: é vermelha.
Os Vadios
A propósito da campanha publicitária do Correio da Manhã, "Colecção Os Anos de Salazar"(Clique na imagem e saiba como ganhar uma viagem ao Tarrafal!).