Simples tributo à vida de Gisberta
Sessão de Poesia
Leitura de ” Indulgência Plenária”, de Alberto Pimenta
Por Nuno Meireles
Domingo, dia 22 de Fevereiro, às 18h
Gato Vadio
(…)
tira-me daqui
tira-me daqui
tira-me daqui não sei se foste tu que disseste
não mexeste os lábios
nem sei se poderás continuar
as tuas trocas os teus desejos
entre os habitantes dos mundos invisíveis
se assim for
nem o Diabo impedirá
que o teu aroma nostálgico
continue a manifestar
a deusa
em todas as suas faces
humanas
(…)
Alberto Pimenta
Indulgência Plenária, Lisboa, &etc, 2007
esta cidade está moribunda
não foram sete hienas tresmalhadas
no clamor da avenida
ninguém pediu pela mulher que engana a carne
por um dia de canto
ouvem-se risos e os cafés estão cheios
gente soçobrada que não pára de beber o galão
de invectivar a tristeza
ou o azedume em fila de espera
na paragem do autocarro, a mulher das varizes
o homem do escarro,
o moço das Belas Artes
as mãos nos bolsos remoem pedras, paus e beatas
as mesmas pedras
os mesmos paus
as mesmas beatas
e o cheiro a kispo molhado não encobre a frialdade
nem a nortada
o pestilento riso da cidade
Júlio do Carmo Gomes
Nota: Gisberta Salce foi encontrada sem vida no dia 22 de Fevereiro de 2006 num prédio abandonado da cidade do Porto. Foi maltratada, humilhada, violentada até à morte. Alberto Pimenta escreveu “Indulgência Plenária” tendo presente Gisberta, a sua vida, a sua liberdade, a sua morte. A leitura integral do livro é do conhecimento do autor.