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"Será que o capital e o trabalho não têm o mesmo destino? Será que ainda hoje podemos qualificar o trabalho como força produtiva e fundamento da riqueza? Enquanto o trabalho foi vivido como uma alienação pela maioria dos homens, era possível atribuir-lhe um papel subversivo. O homem fazia face às máquinas na medida das suas possibilidades. Diziam-se que eram alienantes e tentava libertar-se delas. Mas na nossa nova logística de interacção homem-máquina, já não se trata de trabalho. O homem e a máquina interagem. Já não existe o agente trabalho. Existe apenas uma operação. Já não nos encontramos numa situação de confronto transcendente e vertical: estamos antes numa situação horizontal de funcionamento em rede. Hoje em dia, quem trabalha é como se fosse um cadáver de que nunca mais conseguimos desembaraçar-nos. O sistema bem o desejaria mas não consegue, e os trabalhadores, que são afectados por isso, também não querem abandonar a sua razão de existir. Isto é paradoxal. De um modo geral, o trabalho deixou de figurar como uma energia de ruptura(...)"
Jean Baudrillard, in
O Paroxista Indiferente, Edições 70, 1998.