MANIFESTO em solidariedade com as populações do Barroso! Sim à Vida!

 


 

Manifesto em solidariedade com os sete anos de luta na região do Barroso

A resistência das populações locais contra a falsa transição verde e o extractivismo liberal


 

 

A BALANÇA da justiça nunca pesa o que devia.
E a crise do espectáculo global das forças da mentira e das várias faces da sua violência encontram a resistência no campo da vida, no campo da verdade da vida vivida.


Será possível que a chamada transição verde, na fase actual de colapso produtivista, destrua uma das primeiras regiões Património Agrícola Mundial (FAO/UNESCO) da Europa, em nome do extractivismo do lítio?

É racional que um projecto de mineração, empreendido por uma empresa que nunca extraiu um mineral que fosse do chão da nossa terra – aqui e em qualquer lugar do Planeta – e sem qualquer experiência em mineração, possa acabar com um dos territórios europeus com maior bio-diversidade, fruto da relação harmónica  e ancestral entre os seus habitantes e os recursos naturais?

É normal que um projecto de expansão do colonialismo liberal submeta as populações e o poder local contras as suas vontades e no coração de uma das pouquíssimas regiões da Europa onde a propriedade dos montes e das serras, das terras de pasto e do usufruto dos rios, nem é propriedade privada nem estatal, mas é propriedade colectiva do povo, uma forma de jurisdição característica do comunitarismo e mais antiga que a própria fundação de Portugal?  

Será justo que uma multinacional que nunca produziu nem um tostão furado nem extraiu um torrão de terra já tenha ganho milhões, à custa da angústia, da incerteza e das ameaças às nossas avós, apenas por estar no Alternative Investment Market da Bolsa de Londres?

Não é normal, nem racional, nem as populações querem que se torne possível o que está a acontecer na Região do Barroso, no Norte de Portugal. Nem, muito menos, é justo.

Um processo de sete anos de luta das populações, mas também do poder municipal, contra os interesses opacos do mercantilismo extractivista, que deve chegar agora ao conhecimento mais amplo da sociedade, no momento dramático em que o Estado português impôs uma decisão burocrática (a “servidão administrativa”) que autoriza a empresa mineradora a entrar nos terrenos colectivos(baldios) e também nos terrenos privados, contra a vontade das organizações colectivas (Juntas de compartes) que gerem os baldios e dos particulares/privados, que vêm assim as suas terras invadidas. Uma decisão anti-democrática que nos coloca em legítima defesa.

O paradigma do extrativismo, assente em políticas expansionistas e de acumulação do capital, há séculos que destrói comunidades e territórios. No tempo presente, a mesma deriva política responsável pela sexta extinção em massa e a destruição dos sistemas ecológicos locais e globais, apela agora ao mantra da"desmaterialização" e da "transição energética", para recauchutar a indústria automóvel, mineira, militar e fóssil. O Estado e as corporações multinacionais, ambos dominados pelas práticas liberais e suas insanáveis contradições, estão prontos para sacrificar mais um território, dividir para reinar e criminalizar as lutas.

Do ponto de vista dos elevados riscos ambientais locais e para toda a bacia hidrográfica do Douro, as conclusões do estudo do geólogo e Prof. Steven Emerman (Princeton University) são inequívocas: o projecto da “Mina do Barroso” pode levar a uma falha catastrófica na barragem de rejeitados proposta pela empresa promotora. O especialista mundial em Mineração, Hidrologia e Geofísica, durante vários anos presidente do Subcomité do Corpo de Conhecimento da Sociedade de Barragens dos EUA, apresenta diversas razões fundamentadas para rejeitar o projecto da “Mina do Barroso”, entre as quais destacamos: o facto de a barragem de rejeitados propor um método de construção que é ilegal em diversos países, nomeadamente no Brasil, Chile, Peru e Equador; e o facto de a barragem de rejeitados ficar muito perto do Rio Covas (a menos de 1 km), o que seria ilegal em países como a China.

(Ver abaixo, por favor, a apresentação gráfica com os 8 principais argumentos de rejeição apresentados pelo geólogo e especialista. Caso pretendam obter informação completa sobre o estudo de avaliação, disponível em Português e Inglês, solicitem os estudos por e-mail).
 

No fundo, há mais amor e justiça nas barrosãs que pastam livremente pelos montes colectivos do que na bolsa de activos do mercado do lítio. Há mais humanidade na cozinha das nossas avós do que nos corredores do poder. 

 

 

Aqueles que amam demasiado as coisas e não o bastante os seres viventes, aqueles que só amam os outros seres se os objectivarem e os tornarem coisas, se os escravizarem ou aniquilarem, não podem passar. Essa ordem das coisas que impede o que resta da autenticidade da vida não vai passar porque a sede de viver em paz é inesgotável.

A empresa especulativa e o seu projecto de mineração já são pura arqueologia, uma montra de antiquário, um fóssil da sua própria falência, um caco a mais no museu do fim do capitaloceno.

Há muito que caçámos a mentira do liberalismo cultural no fojo da nossa boca.

Por isso, respigamos as palavras do último comunicado da associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso:


“A única coisa normal aqui é RESISTIR. Em defesa da Serra e dos modos de vida que dela dependem. E por um combate à crise ecológica justo, que apenas sacrifique os responsáveis pelo estado a que chegámos.

Não somos nem seremos meros territórios de extração. E nunca desistiremos de lutar: contra uma empresa, um Estado e todos aqueles que se uniram para acabar com a nossa comunidade.


Os lobos voltam a uivar na Serra!”



Porque o que se ensina hoje na luta no Barroso existe desde sempre na raiz que nos criou.

Nós abrimos os olhos durante a noite.

Os pirilampos já voltaram ao monte.


 

Subscrevem o manifesto de apoio (em actualização):

  1. A Sachola
  2. ARBA - Asociación para la Recuperación del Bosque Autóctono (ES)
  3. Casa da Horta
  4. Cesta, Cooperativa Integral
  5. Coop99, cooperativa integral do Porto CRL
  6. Estudantes do Porto em Defesa da Palestina (EPDP)
  7. Extinction Rebellion Portugal (todos os núcleos)
  8. Gato Vadio
  9. Livraria Utopia
  10. MUBi | Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta
  11. Musas
  12. PELE, Associação Social e Cultural
  13. Rede 8M Nacional
  14. Rede Ecossocialista do Porto
  15. Rural Vivo (Gerês)
  16. Túnel, espaço cultural autogerido
  17. Unidos em Defesa de Covas do Barroso
  18. ...

Solicita-se que todos os colectivos que se identificarem com o manifesto e a causa, e que ainda não subscreveram o manifesto, que o façam de livre de vontade e o difundam publicamente nas redes sociais. Este convite é também extensivo a todos e todas (indivíduos) que nos escutam!!

Contactos de e-mail para subscrever o manifesto:
gatovadio.livraria@gmail.com e vadio.enviadevir@gmail.com


Relembramos:  É já este sábado! 💥

O tempo da servidão acabou! Barroso vive e resiste!

MANIFESTAÇÃO

Largo do Cruzeiro, Covas do Barroso, a partir das 11h, sábado dia 18 de Janeiro.

Traz comida para partilhar!

Uma convocatória da associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB) aqui: 

https://fb.me/e/e4pvAz2R9

 

 

Conclusões do estudo do geólogo e Prof. Steven Emerman



EVENTOS pela CIDADE
Várias actividades sobre as lutas das populações contra a Mina do Barroso têm sido realizadas desde a semana passada em vários espaços da cidade do Porto. Nas próximas semanas vão decorrer iniciativas na livraria Gato Vadio e também na Casa da Horta, com a participação de locais, activistas, partilha de informação e exibição de filmes e documentários sobre o processo de contestação ao extractivismo do lítio. Fiquem atentos!

 

MAIS INFORMAÇÃO:
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#otempodaservidaoacabou
#naoaminasimavida

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Informação relevante sobre o estado actual da luta:

Intervenção de Sofia Gomes no dia 11 de Dezembro no Parlamento, em nome da população local e da associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, no âmbito da audiência da Comissão de Ambiente e Energia da Assembleia da República, reunindo representantes da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, deputados e especialistas. Deforma clara e eloquente, estes dez minutos contêm toda a informação sobre a actual fase da luta.
https://www.youtube.com/watch?v=ErGES91voQI&list=LL&index=2
(Em português, com legendas em inglês/With English subtitles).

Artigos na Imprensa:

“O bastião transmontano contra o sacrifício da vida”
https://www.sabado.pt/opiniao/convidados/maria-j--paixao/detalhe/o-bastiao-transmontano-contra-o-sacrificio-da-vida

Adélio Mendes: “A extração de lítio em Portugal é um engano, as reservas são pequenas e os custos de extração enormíssimos”
https://expresso.pt/podcasts/o-futuro-do-futuro/2024-02-27-Adelio-Mendes-A-extracao-de-litio-em-Portugal-e-um-engano-as-reservas-sao-pequenas-e-os-custos-de-extracao-enormissimos-c4f671e2

“Novos Contos das Montanhas Barrosãs: usurpações, intimidações, e resistências” https://www.jornalmapa.pt/2024/09/26/novos-contos-das-montanhas-barrosas-usurpacoes-intimidacoes-e-resistencias/

“Licença Social para Operar: a penetração das companhias mineiras na região do Barroso”
https://www.jornalmapa.pt/2022/08/19/companhias-mineiras-barroso/

DossierMinas no Jornal Mapa
https://www.jornalmapa.pt/tag/minas/

“Covas do Barroso não reconhece legitimidade à servidão administrativa para exploração de lítio”
https://www.jn.pt/4558008549/covas-do-barroso-nao-reconhece-legitimidade-a-servidao-administrativa-para-exploracao-de-litio/

Reportagem da SICNotícias sobre a situação em Covas do Barroso após o decreto de Servidão Administrativa em nome da Savannah Resources.
https://www.youtube.com/watch?v=a3eD03xLYWM

Reportagem da CMTV sobre a situação em Covas do Barroso após o decreto de Servidão Administrativa em nome da Savannah Resources.  
https://www.youtube.com/watch?v=HQOfEElDk1k

English version of the Manifesto and call to action at the last Activist Camp in the summer of 2024. https://barrososemminas.org/2024/manifesto/english/
 
A marvellous website with information, pictures and information boards in English about the fight against mining in Barroso. https://www.savebarroso.com/
 
 
 
In 2024, at the Cannes Film Festival, two films were premiered that portray the struggle of the people of Barroso against extractivism: the feature film ‘A Savana e a Montanha’, by Paulo Carneiro; and the short film ‘Quando a terra foge’, by Frederico Lobo.
https://www.youtube.com/watch?v=u9x0abA8eYg 
 
“Savanna and the Mountain”, Trailer
https://variety.com/2024/film/global/carneiro-savanna-and-the-mountain-cannes-1236007275/

“Savanna and the Mountain”, Paulo Carneiro movie (77’)//A Portuguese Village’s Struggle Against a Lithium Mining Giant Takes Center Stage at Cannes
https://www.screendaily.com/reviews/savanna-and-the-mountain-cannes-review/5193171.article

‘Savanna And The Mountain’: Cannes Review
https://www.quinzaine-cineastes.fr/en/film/savanna-and-the-mountain

All info about the movie “Savanna and the Mountain”, by Paulo Carneiro.  
https://www.youtube.com/watch?v=xoBUWtTyA8M
Paulo Carneiro interview on “Savanna and the Mountain” at Cannes Film Festival 2024
 
 
 
Carlos Libo vive da apicultura na aldeia de Covas do Barroso e é também músico. Esta canção, com as gentes do Barroso, foi escrita e composta por Carlos Libo. Apreciem!  https://www.youtube.com/watch?v=5CeE-lKG0O8

 

Baldios
Os baldios são uma forma ancestral de propriedade colectiva associada a uma prática de gestão e de utilização comunitária da terra e dos recursos naturais (rios, mato, barro, pedra, plantas silvestres, frutos silvestres...). São o retrato de uma prática social, transmitida de geração em geração, que sempre proporcionou segurança alimentar e bem-estar às populações serranas. Os baldios ou terras comunais não são propriedade privada nem pública, mas antes propriedade colectiva da comunidade, dos vizinhos que vivem numa aldeia, e são geridos pelas pessoas para seu benefício comum. As formas de comunitarismo, os bens comuns e os baldios são práticas e instituições mais antigas que a própria criação do Reino de Portugal (séc. XII) e, apesar dos ataques da Coroa, do fascismo, da Modernidade e agora do Capitalismo Terminal, resistiram até aos nossos dias!