As sucessivas ditaduras militares que assolaram a América do Sul, e a do seu próprio país, o Uruguai a partir de 1973, obrigaram Eduardo Galeano a reflectir sobre o cruel destino
que parecia estar reservado ao subcontinente. Ainda no exílio, começa a investigação para o que será a trilogia Memória do Fogo: as histórias por trás da História do Novo Mundo, o registo das cinzas que o fogo da Conquista deixara. Uma história continental da infâmia. ● Herdeira, em espírito, da crónica de Bartolomé de Las Casas e da verve do Padre António Vieira, inspirada em poemas de Kavafis ou, como sugeriu Ronald Christ, na manta de retalhos nacionais e culturais que é todo o continente americano, a forma desta trilogia (textos curtos que apanham a “grande História” pelas pequenas histórias e de ângulos inesperados) tornou-se a assinatura de estilo do seu autor, que nos faz um convite irresistível: “ver a história pelo buraco da fechadura”.
Baseado em rigorosa pesquisa arquivística e bibliográfica, Memória do Fogo 1. Os Nascimentos, a primeira parte da trilogia (publicada pela primeira vez em 1982), leva-nos numa viagem pelos dois primeiros séculos da conquista da América, em direcção ao primeiro “coração das trevas” da civilização europeia. Acompanhados por fantasmas espanhóis, portugueses, holandeses, franceses e ingleses, não teremos viagem serena.