Resumo: Tentaremos contribuir para uma caracterização do trabalho fotográfico de Annemarie Schwarzenbach, procurando contextualizá-lo na vida e na produção literária da autora e situá-lo na história da fotografia e no ambiente da fotografia alemã, europeia e americana dos anos 30. Discutiremos a contemporaneidade do olhar da fotógrafa, no quadro do que se costuma designar por fotografia documental contemporânea. Annemarie Schwarzenbach foi uma jornalista, escritora e fotógrafa, que nasceu na Suíça em 1908. Morreu jovem, com apenas trinta e quatro anos de idade, mas foram trinta e quatro anos percorridos a uma velocidade próxima da velocidade da loucura. Depois de décadas de obscuridade, está a ser redescoberta na Suíça e em toda a Europa.
À velocidade da loucura, os sonhos no coração não ocupam espaço, duram um tempo infinito, e têm uma massa também infinita.
Albert Eintraum, O sonho e o espaço-tempo - Teoria da Relatividade Restrita dos Sonhos
Quando morre, em 1942, já tinha visitado a Pérsia, várias repúblicas soviéticas, a Turquia, o Afeganistão, os EUA, o norte de África, alguns países da África Central e grande parte da Europa, tendo passado inclusive por Portugal. Adivinhamos nos seus escritos e na sua fotografia uma necessidade quase obsessiva de viajar e de procurar alguma coisa, que ela mesma confessa muitas vezes não saber o que é. “A viagem é uma forma de vida particularmente intensa”, escreve a autora. A viagem não tem um destino, é uma "forma de vida". Um fado. A vida como errância. Liberdade como condenação. Em verdade, a viagem parece ser muitas vezes mais uma fuga do que uma procura. Annemarie refere-se ela própria a essa compulsão para a viagem como uma “maldição de fuga”. Foge da Europa que se autodestrói, foge do nazismo, foge da família, foge da mãe, foge dela própria, foge da sua condição de homossexual. E no fim, desiludida, fala de uma liberdade desbaratada. E de cada viagem sente a necessidade de regressar a casa, de voltar à Europa. Muitas vezes, ao longo da sua vida, esta mulher fascinante, com um rosto misterioso que de imediato nos cativa, foi associada à figura de um anjo. “Um anjo devastado” como a descreveu Thomas Mann, pai dos seus dois maiores amigos de juventude, e que por ela ficou fascinado quando a conheceu, ou “Ela não era nem um homem nem uma mulher, mas um anjo, um arcanjo”, como afirmou Marianne Breslauer, que foi sua amiga e sua companheira de viagens, uma fotógrafa suíça de prestígio, que é a autora da imagem que nós usamos para criar o nosso anjo.
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