Música, mentiras e livros
"Há mentiras, mentiras danadas e as estatísticas." - Mark Twain
Programa
Sexta-feira, 30 Concerto Pedro e Diana
Sábado 31 Apresentação do livro Al Face-book
Domingo, 1 de Abril Apresentação do livro "O Jazz da Bancarrota" + Concerto de Jazz Mikowski
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Al Face-book
Sábado, 31 de Março, 17h
Apresentação do livro
com a presença do autor
Editora 7 Nós
(...)
para o efeito credenciado
pelo Ministério
o protocolo já estava a ser accionado
no entanto
e apesar de os poetas
já não serem o que eram
havia que não perder de vista
a política estratégica
de crescimento sustentado da poesia
havia que assegurar
que a poesia continuasse disponível
e acessível a todos
especialmente aos mais carenciados
o que implicará
como ficou dito
a sua cuidadosa privatização
(...)
Evoluindo a partir do projecto militar norte-americano ARPANet (a primeira rede operacional de computadores à base de comutação), a Internet alimenta, mais do que nunca, o mito de uma “inteligência colectiva”. Com o advento da “sociedade rede”, cumpriu-se o pesadelo cibernético planetário: milhões de utilizadores sonham em adaptar-se mais e melhor ao mundo tecnificado e artificializado que lhes é imposto. Para isso, é necessário que cada nano-operador-individual esteja familiarizado com certos códigos e linguagens, sem os quais não seria possível aos poderes dominantes promoverem uma mobilização das populações à escala global, para que uma e outra se identifiquem e se plasmem, como jamais prenunciado na mais céptica distopia. Que esses códigos e linguagens se degradem a olhos vistos, e que esse sonho da tecnificação tenha salvado o projecto de dominação capitalista, parecem ser ângulos de visão que não têm acesso à sociedade do analfabetismo equipado.
A incitação ao riso continua a ser o meio usado por Alberto Pimenta para expor ao ridículo as virtualidades dessa e de outras realidades – realitys que se vão tecendo a cada show que passa, a cada programa (televisivo ou escolar, partidário ou cultural, uns e outros confundindo-se até à exaustão), a cada sítio, a cada página, a cada byte (e “baite”!), a cada like. Que o que resta da “inteligência colectiva” nos guarde de cair na rede.
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Jazz da Bancarrota e outros contos (nem sempre) grotescos – Paul van Ostaijen Apresentação do livro - Editora 7 Nós Domingo, 1 de Abril, 16h30 É um caso raro o anonimato de Paul van Ostaijen (1896-1928) na história oficial e não-oficial da literatura europeia do século XX.
É um caso raro o anonimato de Paul van Ostaijen (1896-1928) na história oficial e não-oficial da literatura europeia do século XX.
A vida breve e o vernáculo neerlandês, língua materna do escritor nascido em Antuérpia, talvez expliquem em parte o eclipse que ensombra a obra poética, artística, narrativa e ensaística do “senhor 1830”, como ficou conhecido o poeta por andar vestido extravagantemente, como um dândi dessa época pelas ruas de Antuérpia. Pouco mais de dez anos de labor poético, narrativo e ensaístico, deixaram uma marca profunda na literatura neerlandesa, particularmente na poesia flamenga, sendo por muitos considerado “o pai da poesia contemporânea” das letras flamengas.
Em 2006, Van Ostaijen ganhou popularidade com a realização do filme mudo Bankroet Jazz, baseado num dos “contos” reunidos na antologia e que dá o título à selecção agora publicada pela 7 Nós. As apresentações do livro (que passarão pelo Porto, Lisboa, Aveiro, Braga), além de contarem com a participação de um dos editores (que escreveu um relato sobre a vida e obra do autor) e do tradutor (Arie Pos), terão esse motivo aliciante: a projecção do filme Bankroet Jazz (produção alemã-neerlandesa. Tem a duração de 40 minutos e é feito com imagens dos anos 20/30 seguindo uma estética dadaísta. Sendo um filme mudo, porém, asseguramos a tradução em berros-Dada das passagens com narração.)
A par da poesia, Van Ostaijen notabilizou-se pelos seus contos grotescos. Se a poesia seguia a via ascética da autopoiesis, Ostaijen denota com as sátiras a necessidade de encontrar o meio de dizer o que a poesia calava. Está convicto de que, num mundo desencantado pela mentira instituída, o uso do grotesco, da farsa e do ultraje são os únicos meios de se aproximar da “verdade” e, desse modo, restituir ao humano a realidade e a lucidez crítica.
À luz do presente, os contos reunidos nesta antologia (traduzidos do neerlandês por Arie Pos) deixam-nos a impressão de terem sido escritos sobre a fase política da Europa de hoje, ao trazerem à superfície o homem precário e anónimo, controlado pela política do Estado, depauperado pelo economicismo e pela plutocracia da Banca, disciplinado pelas organizações hierárquicas que cercam o quotidiano, endomingado pela moral fetichista da cultura de massas.
Mesmo se o flamengo se mune de um discurso farsante, virtuoso e rigoroso, para ridicularizar a organização social da mentira, a sua função não era em nenhum momento apresentar certezas, talvez por saber que as certezas, nomeadamente as que dominam, constituem um obstáculo à mudança.
Tentados à clareza e a con-ferir ao leitor uma legibilidade impressiva e dissecadora das flutuações passadas e actuais, na Europa e na cultura, recuperamos hoje a prosa engenhosa de Van Ostaijen, o seu humor agudo e dissidente, a menos digestiva crítica anti-autoritária, ontem hipotecadas por uma espécie de passivo literário.
Troque já o Estado, a Banca e o ministro da Cultura por este livro!
A pa
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Concerto de Jazz Mikowski Domingo, 1 de Abril, 19h
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