“Edgar Allan Poe escolheu para assunto do seu discurso um tema que é sempre interessante e foi muito debatido entre nós. Anunciou que falaria do “Princípio da Poesia”. Existe, já há tempos nos Estados Unidos, um movimento utilitário que quer arrastar a poesia como o resto. Há lá, poetas humanitários, poetas do sufrágio universal, poetas abolocionistas das leis sobre os cereais e poetas que querem fazer construir work-houses. Juro que não faço alusão nenhuma a pessoas do nosso país.
Não é minha culpa se as mesmas disputas e teorias agitam diferentes nações. Nas suas palestras, Poe declarou-lhes guerra. Ele não sustentava, como certos secretários fanáticos de Goethe e outros poetas anti-humanos, que toda a coisa bela é essencialmente inútil; mas propunha, sobretudo para objecto a refutação, do que chamava espiritualmente “a grande heresia poética dos tempos modernos”. Essa heresia é a ideia de utilidade directa.” Charles Bauldelaire, in EDGAR ALLAN POE
EDGAR ALLAN POE
Autor: Charles Bauldelaire
Tradução: Manuel Dias Soares
Edição: Alma Azul
“Certa noite, ao regressar a casa, completamente embriagado, pareceu-me que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, horrorizado com a violência do meu gesto, feriu-me ligeiramente na mão com os dentes. Uma fúria se apossou rapidamente de mim. Não me reconhecia. Dir-se-ia que a minha alma original se ausentava do meu corpo num instante e uma ruindade mais do que demoníaca, saturada de genebra, fazia estremecer cada uma das fibras do meu corpo. Tirei do bolso do colete um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pelo pescoço e, perverso, arranquei-lhe um olho da órbita!”. Edgar Allan Poe in GATO PRETO
Autor: Edgar Allan Poe
Tradução: Manuel Dias Soares
Edição: Alma Azul