WILLIAM MORRIS
Do Belo, do Justo e do Verdadeiro (e do)
Ódio à Civilização Moderna
(Cornuda Radiante)
Apresentação e conversa com Jorge Leandro Rosa e Júlio do Carmo Gomes
Domingo, 31 de Agosto, 17:00
Gato Vadio (Porto)
William Morris (1834-1896) «foi um revolucionário sem Revolução; mais do que isso, sabia que não vivia num contexto revolucionário. Ao contrário de Cromwell, a Revolução não lhe caiu no colo; nem muito menos construiu, como Lenine, um partido empenhado, no seio de uma sociedade cujo potencial revolucionário era evidente. Aos olhos dos seus oponentes, não passava do exemplo acabado do socialista agitador de consciências ou, como hoje se diz, do intelectual desajustado. Quis incitar à revolta onde ela estava ausente. Quis tornar os conformados em homens inconformados, e os homens insatisfeitos em agitadores do descontentamento. ‘Se estou aqui esta noite é para incitá-los a não se contentarem com pouco’». (E.P. Thompson, posfácio).
Para as novas gerações, com o passar do tempo e a acumulação de ruínas a céu aberto do necro-museu do capitaloceno, os ensaios políticos de William Morris, compilados nesta edição da Cornuda Radiante, não perderam nem a sua acuidade crítica, nem a sua força política, nem a luminosidade íntegra de quem sonha e se empenha em revolucionar a vida.
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No dia 24 de Março de 1834, na antiga vila de Walthamstow, nas cercanias de Londres, nascia William Morris, poeta, romancista, pintor, tipógrafo, designer, socialista revolucionário e a alma do movimento Arts and Crafts.
Com a sua rica cultura histórica – inspirado pelo romantismo tardo-medieval e filiado ao anti-tecnicismo pré-rafaelita –, e a sua proposta concreta contra a dominação social, influenciada pelo socialismo utópico e o anarco-comunismo, Morris tinha uma percepção espantosa das linhas de força da história e dos elementos de decadência da sua época, vaticinando a futura ruína da civilização contemporânea.
Se o Ocidente reconhece os processos catastróficos associados à Industrialização e à tecnologia do projecto mercantil no marco da II Guerra Mundial, pela mão de autores como Lewis Munford, Günther Anders, Jacques Ellul, André Gorz ou Ivan Illich, o artista inglês rebelou-se meio século antes contra um ideal de Modernidade que se impunha ao mundo mediante a profanação da natureza, a destruição dos laços humanos, a aniquilação da criatividade e o desprezo pelos mais simples prazeres da vida.
Embora Morris aceitasse quase na íntegra a análise económica e histórica de Marx, sempre confessou que o “motivo principal” para se ter tornado socialista revolucionário foi o seu “ódio à civilização moderna”: ‘A foleirice reina! Do estadista ao sapateiro, tudo é foleiro!’
Repudiou o sucesso como outros homens repudiam a calúnia. Mergulhou nas profundezas mais intrincadas do artesanato. Nutriu o seu ódio pela civilização moderna ao traduzir sagas islandesas. Sentou-se deliberadamente em cima da sua cartola. Lançou a sua grande campanha pela protecção de edifícios antigos. Fundou o seu jornal matutino, porque a sua resposta foi tornar-se em um agitador revolucionário.
Previu o fascismo. Previu (e execrou) o socialismo de Estado. Previu (e lastimou) o Estado de Bem-Estar Social. Diante do cenário de um “serviço público capitalista levado à perfeição”, bradou: “Não atravessaria a rua para alcançar semelhante ideal”.
Como disse o historiador E. P. Thompson, não tinha tempo para os bons selvagens, e menos ainda para a panaceia da burocracia estatal. Na sua visão, nenhuma intervenção mecânica vinda de cima poderia engendrar a ética da comunidade: “O homem individual não pode transferir os problemas da vida para os ombros de uma abstração chamada Estado”.
Para as novas gerações, com o passar do tempo e a acumulação de ruínas a céu aberto do necro-museu do capitaloceno, os ensaios políticos de William Morris, compilados nesta edição, não perderam nem a sua acuidade crítica, nem a sua força política, nem a luminosidade íntegra de quem sonha e se empenha em revolucionar a vida.
“É mais forte do que eu… As ideias que tomaram conta de mim não me vão deixar em sossego... Temos de nos virar para a esperança, e só a vislumbro numa direcção: no rumo da Revolução. O resto é história …”.