Liberne – Histórias dos Montes Baldios | 28 Mar 21h


A Gato Vadio acolhe a apresentação de “Liberne – Histórias dos Montes Baldios”, o novo livro de Júlio do Carmo Gomes — fundador da livraria Gato Vadio e da editora 7 Nós. A sessão está marcada para o dia 28 de Março (sexta-feira) às 21h e conta com o apoio e presença das editoras Flauta de Luz & Cornuda Radiante e da associação Rural Vivo. 


FICÇÃO | CONTOS
Liberne, Histórias dos Montes Baldios  

Sinopse:

"Quando Liberne escava no húmus da cosmovisão das sociedades comunitárias e traz à superfície o impacto da sua herança ao longo da história, não podia deixar de suscitar questionamentos próprios da nossa época e que agudizam as contradições culturais, antropológicas, sociológicas e psicológicas, quer de um passado recente quer da nossa contemporaneidade. Inspirados nas identidades culturais das serras e montes baldios do Alto Minho e do Norte de Portugal, os sete contos que formam o livro revelam no entanto um carácter mais universalista do que regionalista ao colocarem as personagens numa permanente tensão entre o legado e o perdido, entre a criação e a destruição, entre o transcendente e o imanente, enfim, entre o querer ser e o devir do tempo com o seu inexorável fluir. Estas narrativas, tantas vezes densas e outras tantas leves, não se enquadram nem num estilo narrativo unívoco nem estagnam numa dimensão temporal plana e fixa, perfazendo antes um arco temporal que abrange tanto histórias passadas num tempo remoto, como narradas a partir da contemporaneidade, ou até mesmo contadas na linha de um tempo futuro e distópico. Para lá de tudo isso, Liberne é um hino à vida simples, à vida em comunidade, à beleza e à harmonia da vida humana com a natureza”.  


“A primeira carcaça foi encontrada decapitada e a cabeça do ciborgue nunca foi descoberta. O crânio nunca apareceu, mas os vestígios deixados no lugar onde se deu o encontro fatal revelaram que a cabeça rebolou pela ribanceira, ganhando balanço devido à inclinação do talude onde o destino lhe ditou a sorte. À medida que rolava pelo barranco, misturando-se com as urzes e o tojo, impregnando-se de terra e de insectos, sentindo ainda nos orifícios metálicos o odor das giestas bravas, o crânio foi parar ao carreiro, continuando a rebolar dezenas de metros, esquivando-se sempre a sair da serventia, fincada pelos pés dos humanos, fincada pela memória de pastores e pastoras, fincada ao longo de séculos por gerações atrás de gerações e cujo rastro nem a chuva nem o vento nem o estio apagaram, nem mesmo o abandono do que não torna a vir face ao inelutável avanço do tempo (…)”, excerto in “Guardião”.

 

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Nota: “Aldeias Criativas”, Residências Rural Vivo

Em 2021, Júlio C.G. realizou uma residência artística no Gerês promovida pela Rural Vivo, com o propósito de recolher histórias de vida dos residentes. Em 2023, ainda a convite da associação, voltou ao Gerês para dar continuidade ao trabalho de pesquisa e à interacção com as populações. A recolha de histórias e o apoio da Rural Vivo constituíram um incentivo fundamental para forjar a concepção e a criação dos contos agora publicados.

Por sua vez, as ilustrações de Rita Faia agora publicadas foram o resultado da residência “Aldeias Criativas”, também promovida pela Rural Vivo, na aldeia do Campo do Gerês, em 2023.

 


Júlio do Carmo Gomes (1976, Serra das Alhadas, Figueira da Foz) publicou a peça de teatro Urro / Gebrüll (7 Nós & Oficina Arara, 2021), monólogo estreado no histórico Volksbühne em Berlim (2015 e 2021), posteriormente levado à cena em Portugal (2017 e 2021). Em 2022 a Editora Devires (Brasil) incluiu o seu ensaio “Uma heresia contra o humanismo – chocalheiros e candomblecistas em devires neo-animistas” no livro colectânea Enviadescer a Decolonialidade. É tradutor e editor (7 Nós), tendo fundado em Berlim a revista Utopie - Magazin für Sinn und Verstand. Na capital alemã, tem publicado poesia, ensaio e ficção na revista Stadtsprachen. Colabora regularmente com o Jornal Mapa e a revista Flauta de Luz. Projectos e fragmentos da sua passagem que muito devem à raiz matricial da Gato Vadio, livraria que JCG fundou em 2007 e que segue de portas abertas na cidade do Porto.

Ainda este ano a editora brasileira Urutau vai lançar “Loriane veio às costas do boto tucuxi.”, conjunto de contos passados na Amazónia, onde o autor viveu entre 2003/2004.



Rita Faia (1987, Lisboa) é licenciada em Pintura e tem uma pós-graduação em Ilustração Artística. Durante um Curso de Desenho de Natureza descobriu as saídas de campo e o gosto pelo desenho de plantas. Desde então que a botânica tem sido o foco principal do seu trabalho, com o guache como meio de eleição. Em 2023 foi seleccionada para a residência 'Aldeias Criativas’ da Associação Cultural Rural Vivo que decorreu no Campo do Gerês. Actualmente, trabalha como freelancer, colaborando em diversos projectos de ilustração editorial e de produto. Paralelamente, dedica-se à partilha de técnicas através de oficinas e formações de desenho para crianças e adultos.