Antonin Artaud viveu 51 anos, a que há que subtrair 9 anos em asilos e hospitais psiquiátricos. Não sobra muito tempo para uma obra que já se aproxima dos trinta volumes. No entanto, a obra de Artaud não é uma obra como são as outras obras e, sobretudo, não foi escrita em condições e com os objectivos habituais das «obras literárias». Na verdade, os escritos de Artaud, por geniais que sejam, são discursos demasiado vivos, com demasiadas arestas e intuições monstruosas para que a relação que temos com eles possa ser confortável. A nossa sessão não pacificará o que Artaud quis em carne viva, o que não significa que esteja à altura do «malhar das forças» que Artaud nos traz. Mas algo da alegria selvagem, algo do grito, algo do ritual artaudiano subsistirá aqui. «Tenho o crânio espesso mas a alma lisa, um coração de matéria encalhada».
|