“Ele quis morrer para arrasar a morte e voltar”, José Amaro Dionísio.
(clicar na imagem)
Quem ficará – ficou – incólume depois de “Bardo”? Quem escolherá – escolheu – o esquecimento para arrumar as perguntas, desobrigando-se da resposta?
Na prosa da literatura portuguesa são muito poucos os escritos que abandonam o lirismo, as alegorias, os teoremas e os realismos, ou os frescos caricaturais que vão de Eça a Lobo Antunes, que largam o serviço, para se confrontarem com toda a violência contra o que escrevem/vivem: aqui, escrever, é a respiração. A pulso, com choro, com ódio, com colhões, com paixão. Sem concessões. E o peso do que inquieta e sobrevive tem, obrigatoriamente, que ter resposta. Bardo é de uma violência vital, implacável, ternurenta, humana.
“- Porque choras?
Ele diria, diz:
- Porque destruir tudo é a única alegria. Os melhores de entre os mortos virão depois para recomeçar.(…)
Ou talvez dissesse: os meus filhos hei-de deitá-los sempre da mesma maneira. E haveremos de brincar juntos, com galochas por causa do frio. Nos meses de inverno iremos de autocarro para a escola, e nos outros meses iremos a pé. Ou responderia ainda: eles têm armas, eu tive sede e às vezes um maço de cigarros.(…)
Nessa altura, não obstante ser dia, o homem sentiu medo. Pede à mulher que parta. Porquê?, pergunta ela. “Porque és a consciência física da minha solidão”, poderia o homem ter respondido. Mas levanta-se de regresso à cabana." in Bardo.
“Bardo”, de José Amaro Dionísio
Sábado, 20 de Setembro, 23h
Leitura a cargo de José Amaro Dionísio, Nuno Meireles e Júlio Gomes.