Esta livraria não vale a fibra-óptica com que se vai enforcar!



Passaram dez meses desde o fatal dia em que o Gato Vadio abriu portas. Aos poucos fomos acolhendo os lobos, as lobas e os lobachos da cidade. Desde o primeiro instante também espaventámos muita gente. A alcateia laborava um covil radioso. Estávamos na era do retrato do vadio enquanto gato real.
Mas a mitificação do mundo não podia ficar por aqui. Pop-ins e popups exigiam de nós o direito a existir na blogosfera. Queriam acertar-nos o passo com a História, com a feira de virtualidades. Tecia-se a trama(ção).Por várias vezes estivemos para ser linkhados em praça pública. Vivíamos a angústia da livraria antes do penalty da fibra-óptica. Pensámos: para que lado nos atiramos? Concluímos: se há um sentido do real deve haver um sentido do virtual. Caímos na rede. Era preciso que o vadio ganhasse a dimensão total da bytegamia. Emaranhado neste apocalipse de fenómenos, imagens e símbolos, engalfinhado nesta cosmoagonia self-service, gato esquentado, onde quase todos vão a todas, desconfia. É que “se a realidade é uma sombra da palavra” (Bruno Schulz), o perigo da virtualidade está no contínuo apagamento de sombras. Sem espinhas, prometemos lentidão, preguiça, ócio. Envidaremos esforços para ficarmos senão escondidos pelo menos com o rabo de fora da actualite.
Agora que somos um espectro vivemos a felicidade digital das grandes visões.

Os Vadios